segunda-feira, 12 de abril de 2021

PARCIALIDADE OU IMPARCIALIDADE?

Os narradores ( além dos comentaristas e repórteres ) sempre foram tachados em algum momento de parciais, especialmente em grandes jogos, os decisivos principalmente.

O narrador é o mais visado porque ele é quem comanda as transmissões, o que mais fala durante o jogo.

Sabemos que o tema é eterno e que jamais terá uma compreensão isenta pois quem vê futebol tem um time, uma paixão, e a interpretação sempre terá uma tendência.    Coisas do coração.

Recordo um fato que vivenciei nos bastidores em 1995.     

Era a decisão do Brasileirão entre Santos e Botafogo.    Transmissão pela Band e eu estava naquele dia na bancada apresentando o Show do Esporte e durante a partida de prontidão caso caísse o áudio de Luciano do Valle ao vivo do Pacaembu.

Na época tínhamos as atendentes ( telefonistas ) num dos grandes estúdios da Band, cerca de 30 meninas e as ligações não paravam.     Tanto para concorrer aos prêmios do programa como também para "cornetar" o nosso trabalho.

A bola começou a rolar e eu alí sentado no meu trabalho de "stand by".    

Pertinho de mim estavam as meninas e então tivemos uma enxurrada de comentários sobre o trabalho do Luciano na narração da final.

Ao mesmo tempo que as meninas registravam a bronca e a insatisfação de torcedores do Fogão alegando que o locutor estava torcendo para o Peixe, de outro lado também o registro de aficionados do Santos revoltados com a "parcialidade" de Luciano pendendo para o Botafogo.

Elas se entreolhavam espantadas com a disparidade de opiniões dos telespectadores.

Acalmadas pela produção passaram a compreender a normalidade das reclamações pois o futebol é capaz de gerar esse tipo de comportamento dos apaixonados clubísticos.

Me lembro de uma transmissão que fiz na minha cidade certa vez, Americana, pela Band, quando o Rio Branco figurava na elite do campeonato paulista e enfrentou o Palmeiras.

Dia seguinte fui ao banco, às bancas de jornais, circulei pela cidade e de várias observações fui tachado de parcial na transmissão ( tanto pelos palmeirenses quanto pelos riobranquenses ).

Faço esses relatos para dizer que entendemos perfeitamente esse estado de coisas, compreendendo a força da paixão movida pelo futebol.     Podemos acrescentar que na vida também é assim, temos tendências que as vezes contrariam o bom senso  e a isenção ao avaliarmos diversos acontecimentos.   

E do nosso lado, comunicadores, temos a defesa de que todo o trabalho é no improviso, nenhum script, aliado às emoções do espetáculo, por isso as vezes palavras colocadas podem soar como "tendência" ou torcida.

Os bons profissionais não "distorcem".       Apenas se deixam levar pela beleza do futebol e seus lances mirabolantes.     

Quem narra se prende ao trabalho em si e ao respeito pelo assistente.    Há duas torcidas envolvidas e devem ser respeitadas, sejam quais foram os clubes envolvidos.

Particularmente nunca deixei uma jornada com a consciência pesada por não ter sido isento no desempenho.    Erramos, graças a Deus, posto que somos humanos, mas errar tendenciosamente é algo que sobre meus ombros nunca pesaram.





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