Outro dia o meu Rio Branco de Americana foi jogar em Fernandópolis pela Quarta Divisão do campeonato paulista.
Nessa cidade passei um dos momentos mais difíceis enquanto radialista/jornalista.
Foi em 1973.
Trabalhando pela Rádio Jornal de Limeira e narrando a Terceirona da época.
O Independente limeirense jogava partida importante contra o Fefecê - Fernandópolis Futebol Clube - pelo returno da competição.
No primeiro turno o jogo foi em Limeira, onde houve tumulto e brigas entre as torcidas.
Chegando a Fernandópolis com a equipe Jornal fomos almoçar e um dos garçons nos alertou para o risco de termos problemas no estádio.
Falou que a torcida local havia ficado revoltada com comentários de "uma rádio de Limeira" no jogo anterior, e que teria sido ofendida.
Duas rádios limeirenses transmitiam os jogos do Galo: Jornal e Educadora.
Nossa consciência estava tranquila porque o trabalho feito no Pradão fora limpo, profissional, apenas registrando os fatos entre as torcidas.
Tivemos o desprazer de chegar primeiro ao estádio do Fernandópolis e sermos identificados como "a rádio de Limeira".
A recepção foi a pior possível.
Faltou pouco para sermos impedidos de entrar para o trabalho.
Entramos e nos dirigimos ao setor reservado às rádios.
Novamente fomos pressionados, ameaçados e então impedidos de conectar a aparelhagem às linhas telefonicas de transmissão.
Mesmo assim nosso saudoso Lauro Goriel ligou os aparelhos e iniciamos a abertura dos trabalhos.
Quer dizer, tentamos iniciar a transmissão.
Desligaram os fios, os cabos e ficamos incomunicáveis, além das constantes ameaças de dirigentes e torcedores do clube da casa.
Enquanto isso os colegas da Educadora, que chegaram depois, não tiveram problema algum para entrar no estádio e efetuar o trabalho.
Ato contínuo, fomos enxotados da cabine e se quiséssemos transmitir a partida deveríamos faze-lo da pista de atletismo ao lado do gramado.
Lá fomos nós.
Ao abrir os microfones, novamente fomos assediados por dirigentes e advertidos que se falássemos "bobagens" iriamos APANHAR.
Decidimos ir para o topo da escadaria que saia do túnel dos vestiários do Independente.
Deitamos alí e reiniciamos a jornada.
De Limeira pela linha de retorno, Orlando Zovico, o proprietário da Jornal, nos mandava mensagens para desligarmos TUDO e voltarmos pra casa.
Teimosos e profissionais, ignoramos a ordem de Zovico e fizemos toda a jornada com pessoas ao nosso lado vigiando nossa transmissão.
Pra sorte nossa o Galo limeirense perdeu o jogo, porém só conseguimos deixar a cidade de Fernandópolis por volta de 9 da noite. O jogo acabou às 18 horas.
Toda a equipe tinha a certeza de que se o FFC perdesse aquela partida seríamos linchados.
O pavor foi grande.
Passaram-se 46 anos.
É claro que a cidade de Fernandópolis não tem culpa de nada, local aliás onde tive e tenho alguns amigos queridos.
Daquela nossa equipe infelizmente dois amigos já partiram, Flávio Barbosa e Lauro Goriel.
E o Independente foi o campeão naquele ano, com carreata e muita festa em Limeira.
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